A mídia vem adotando a linha de promover debates com os assessores econômicos dos candidatos à presidência da República. Vários canais de TV e jornais assim agiram. Sem dúvida, iniciativa útil à conscientização da população.
Hoje, sexta 24, a Globo News encerra os debates com as assessorias dos candidatos à frente das pesquisas. Até agora foram entrevistados os que fazem as “cabeças” de Ciro Gomes, Lula, Alckmin e Bolsonaro.
Foi possível perceber algumas curiosidades e confrontos entre os candidatos e suas assessorias. A principal delas ocorreu entre o pensamento revelado por Jair Bolsonaro em entrevistas anteriores e o que disse o seu “guru”, Paulo Guedes aos jornalistas.
Sobre vendas de estatais, o economista Paulo Guedes não teve reserva mental. Mesmo o candidato Bolsonaro tendo ponderado sobre esse tema, ele disparou a regra: “É muito interessante isso porque o (Jair) Bolsonaro era associado ao seguinte: ‘não será vendida nenhuma’. Ele é uma posição estatizante etc. Agora vai ter uma resultante interessante, porque para mim são todas”.
Mais adiante, o economista Paulo Guedes elogiou Lula por ter gasto 40 bi bom bolsa família para ajudar os pobres e destacou enfaticamente que os excessos gastos públicos no país começaram com os governos militares de 1964. Sobre subsídios para agricultura disse que se depender dele não haverá e exemplificou: “aparentemente a agricultura é um negócio tão sério que ninguém pode encostar. Para mim, educação é seríssimo, para mim agricultura é seríssimo, para mim indústria é seríssimo, todo mundo é muito sério”.
Outro tema explosivo que o professor Paulo Guedes definiu-se foi sobre a gratuidade do ensino: “Quem pode pagar deve pagar. Se está na universidade pública, privada, eu não sei, mas deve pagar. E quem não pode pagar deve ter o ‘voucher educação’ sim”.
Mauro Benevides, assessor de Ciro Gomes, foi intensamente questionado sobre a proposta do programa de governo de Ciro Gomes, que visa tirar inadimplentes da lista de devedores. Deixou claro que essa iniciativa incluirá a participação do Estado como mediador com credores e bancos públicos.
Benevides explicou que essa ideia significará irrigar para a economia nacional R$ 70 bilhões de reais, recebidos de uma vez, que serão agregados ao consumo das pessoas, sem a necessidade de incluir “um centavo” de dinheiro público. O procedimento envolverá negociação de descontos das dívidas dos consumidores inadimplentes, que serão refinanciadas com juros menores.
Nesse particular de retirada de devedores das listas de “maus pagadores”, o economista registrou que outro candidato estava copiando essa ideia. Realmente, na entrevista anterior de Guilherme Mello, assessor econômico do Partido dos Trabalhadores (PT), ele anunciou proposta semelhante a que vem defendendo Ciro Gomes: “a criação de uma linha de crédito que permita às pessoas refinanciarem suas dívidas e saírem do cadastro negativo”.
O economista do PT condenou a reforma trabalhista: “essa reforma trabalhista é criminosa, não só porque enfraquece os sindicatos que são fundamentais, deixando os sindicatos basicamente sem nenhum instrumento, querendo transformar os sindicatos em uma espécie de clube de campo, mas também porque enfraquece a Justiça do Trabalho”.
Pérsio Árida, que assessora Alckmin, identificou-se com a proposta liberal de Paulo Guedes, ao ser também totalmente contra subsídios à agricultura: “zero subsídios. Subsídio aqui é quase palavrão, não pode falar em subsídio. Precisa acabar os que já têm. Aliás, crédito subsidiado, crédito direcionado, tem que terminar tudo isso”.
Será que Alckmin concorda? Sem dúvida, um risco político acentuado para um candidato apoiado pelo “centrão”, que aglutina a chamada bancada ruralista.
Das propostas anunciadas pelas assessorias nas entrevistas o confronto realmente visível ocorreu entre Paulo Guedes e o seu candidato Jair Bolsonaro.
É o caso de prever: caso Bolsonaro seja eleito, Paulo Guedes teria o mesmo destino que teve Gary Cohn, que assessorou Trump e dirigiu o influente Conselho Econômico Nacional (NEC), tendo sido por ele demitido, sumariamente, nos primeiros dias de governo, pelo fato de discordar de teses do Presidente na área econômica.
Qualquer semelhança poderá ser mera coincidência.
Deus queira que nada aconteça, pois, se consumada uma situação semelhante a do governo Trump (aliás muito elogiado por Bolsonaro), quem pagará a conta será o Brasil, que não resistirá oscilações bruscas, logo no início de um novo governo.